quinta-feira, 28 de maio de 2009

vã tentativa

De longe, o via perdido, errando caminhos desde aquele dia, desde sempre.
Pensou que naquele dia podeira faze-lo encontrar uma reta certa a seguir reta pela estrada a fora.
Não. Não era ainda ali que se encontrariam e que o poderia conduzir pela mão.
Deixou que fosse, então perdido, fazendo curvas em um labirinto que não tinha final demarcado.
Mas continuava a observá-lo, de longe e de cima, de quando em vez.
Era sempre o mesmo, mesmos passos bebados e circulos confusos, no labirinto lá embaixo.
Doía de ver, mas como o via do alto, era inútil gritar conselhos, ele jamais ouviria.
Passou tempo e mundo deu volta.
Continuava lá, dando voltas no escuro sem saber onde pisar.
Pareceu-lhe mais norteado, mas foi só impressão.
E lá vai ele se enfronhar em mais um caminho que não chegará a lugar nenhum.
E ela do alto, assistindo a tudo sem nada falar.
E ela sempre esteve lá, podendo ajudar, querendo ajudar.
Mas caminho se acha sozinho.
E perder é condição para achar.

sábado, 23 de maio de 2009

seu casaco azul e branco

Foi quando, com frio, procurei um casaco e achei perdido, por aqui, o seu casaco azul e branco.
Vesti-o, não por ser seu. Mas por ser o mais surrado e o que tivessse mais cara de casaco para ficar em casa.
E foi assim que te encontrei também perdido, mas não por aqui.
Faz tanto tempo que nem eu mais lembrava...
Lebranças antigas, há muito esquecidas em fundo de gaveta, como o casaco seu.
Lembrei lembranças e casaco.
Deu vontade de falar "oi, tudo bem?"
Mas tá tudo bem...
Por aqui e por aí também...
E vontade dá e passa...
E nós...
Faz tanto tempo...
Já passou.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

o pé errado.

Há quem diga que tem dias que se acorda com o pé esquerdo.
Não compartilho desta opinião para com o lado esquerdo do corpo, e discordo de Drummond quando diz 'Vai Carlos, ser gauche na vida'.
Tenha dó, essa carga semântica negativa para os esquerdos é no mínimo preconceituosa, e digo até ofensiva para os canhotos.
Prefiro dizer que há dias em que se acorda com o pé errado, isto é, você levantou com um pé, mas deveria ter levantado com o outro, não importando os lados - direito ou esquerdo.
Acordar com o pé errado é quando você percebe que era melhor ter dormido o dia inteiro.
Tudo que você pega para fazer nesse dia desanda, como se as coisas não soubessem andar.
É por isso o pé errado. O que tem o pé errado não anda, desanda.
Hoje levantei com o pé errado.
As coisas que fiz não andaram, ou melhor, desandaram, já que sendo minhas as coisas, elas também estavam com o pé errado.
Sendo assim, hoje não escrevo.
Se escrevesse hoje, o texto, assim como eu, estaria também com o pé errado. E desandaria...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

um fim de noite, Marcelo Diniz e Fred Martins

Era um fim de noite normal. Desses com cervejas bebidas, conversas fiadas, estresses poucos e risos muitos. A conta já havia sido pedida, pois me esperava, em casa, uma bendita resenha que já agora não escrevo.
Eis que, em meio a uma frase dita, avisto ele, grande na estatura e também no conhecimento: Marcelo Diniz. Meu mestre literário, aquele que me ensinou, quando pequena ainda, a destrinchar os amontoados de palavras de Machado, Aluizio de Azevedo e Andrades (os três). Muito mais que isso, aquele que me ensinou a gostar da literatura e a querer a literatura para mim. Mas deixo lá estes incentivos, pois não quero que me escorregue, não a pena (como dizia Machado), mas o teclado (que cabe ao meu tempo). Um dia, ainda narro o que representou Marcelo Diniz em minha existência.
Volto a narrativa. Eis que avisto Marcelo Diniz. E , insensatamente, começo a fazer gestos tumultuados para que ele me enxergasse. E ele me enxerga. Vindo em minha direção, avisto um pequeno vulto, escondido logo atrás dele. Era um homem. Certamente um homem que o acompanhava naquela noite (não sei se etílica) pelos bares de Icaraí. E que vulto!
Digo pequeno, porque, de início, não consegui discernir quem o acompanhava. Mas nem alguns segundos se passaram quando pude ver. Era Ele. Aquele cara que canta demasiado em meu cd player. Nada menos do que Fred Martins. E daí vem o meu equívoco ao dizer pequeno vulto.
Fred Martins, se canta demasiado em meu cd player, não pode deixar de se cantor. Mas cantar, muita gente canta. Até eu canto quando ninguém mais pode ouvir. Fred Martins não só canta, mas concede aos ouvidos de quem o ouve aquela catarsezinha boa, dessas que você se reconhece inteiro e volta a faixa zilhões de vezes para se ver de novo e de novo.
E é quando avisto tais pessoas que aflora em mim aquele pequeno desejo de se tornar grande. Grande como são eles dois, grandes de arte.
E é aí que esse texto que escrevo deixa de ser um texto e passa a ser um escrito de fã fanática.
Não, o que escrevo não se limita a isso.
De fato, não nego que sou fã de ambos, e tive o prazer de confessá-lo aos dois. Disse-lhes que, quando crescesse, queria escrever como eles escrevem (porque o Marcelo é parceiro do Fred, e eles escrevem muitas músicas juntos).E foi quando o Fred me convida a ir à oficina neste sábado. O Marcelo já me havia convidado a sábados atrás, mas não pude ir como não o posso agora.
Bem, de tudo ficam algumas coisas:
O prazer de encontrá-los assim, casualmente num bar.
O convite para o aprendizado com mestres.
A vontade de crescer como eles.
E, mais que tudo, um fim de noite inenarrável.

domingo, 10 de maio de 2009

às minhas mães

Ainda não tive o prazer da sensação de ser mãe, e, nesse sentido, não posso escrever a esse respeito.
Mas posso dizer que tenho o prazer da sensação de ter mãe , e é sobre isso que escrevo.
Uns dirão: mas todo mundo tem mãe, essa é uma condição imprescindível da existência humana.
Digo que não.
Para nascer é preciso de um fêmea parideira, nada mais. Essa fêmea pode ser que venha a ser mãe, ou não.
Há ainda um outro caso, o da fêmea ser mãe, mas não poder exercer a função de mãe, pois logo depois de dar a luz ela se vai para um determinado outro plano.
Essa última experiência eu vivi, juntamente com a minha mãe biológica, que não pode passar nenhum dia das mães comigo.
Mas, nem por isso eu deixei de sentir a sensação de ter mãe.
Como não pude ir ter com a minha, saí mundo a fora adotando mães. E hoje, coleciono umas cinco.
Porque eu não poderia passar a minha existência sem sentir essa sensação de ter mãe. E também não poderia deixar que essas minhas mães adotadas (algumas delas não tiveram filhos biológicos) passassem a existência delas sem a sensação de ser mãe.
As minhas mães...
Responsáveis por tudo que sou hoje.
Reconheço em mim um pedaço de cada uma delas.
Sem dúvidas, umas foram mais presentes que outras, mas, todas elas me ensinaram a ver o mundo, e todas elas me deram a mão ou me carregaram no colo nos momentos em que eu, nova na vida, me perdia e não conseguia andar.
Ter mãe é ter alguém ao seu lado para todas as horas.
É ter alguém que vai te dar comida, que vai te ensinar a fazer comida, e que você também vai alimentar.
É ter alguém que vai acordar a noite para ver se você está dormindo bem.
É ter alguém que vai fazer um escândalo porque você pegou uma simples gripe e que, por isso, vai te dar um coquetel exagerado de remédios.
É ter alguém que vai brigar com você porque você não toma os remédios.
É ter alguém que vai te avisar que aquele cara não serve pra você, coisa que você não vai ouvir.
É ter alguém que vai sofrer mais do que você por te ver chorando quando aquele mesmo cara te der um pé na bunda.
É ter alguém que vai te dar os mesmos conselhos todas as vezes que você sair de casa, nem que seja só para ir à padaria.
É ter alguém que vai te defender do mundo com unhas e dentes.
É ter alguém que vai vibrar com as suas conquistas mesmos que estas não sejam grande coisa.
É ter alguém que vai te mandar estudar, mesmo que você já tenha acabado de estudar.
É ter alguém que vai reclamar que você anda saindo demais, anda bebendo demais, anda dormindo tarde demais.
É ter alguém que vai te chamar de irresponsável e de preguiçosa, mesmo não achando que você seja uma dessas coisas.
É ter alguém que vai ver você deitada lendo um livro e vai mandar você levantar e ir ajudar a ela com alguma coisa, visto que você não está fazendo nada.
É ter alguém que vai reclamar de você para os outros, mas que nunca vai admitir que esses outros falem mal de você.
É ter alguém que vai querer que você não cometa os mesos erros.
É ter alguém que muitas vezes vai querer viver por você para te poupar de alguma coisa.
É ter alguém que vai brigar com você porque você está fazendo o que quer, e não, o que ela quer.
É ter alguém para você brigar também, e por que não?
Mas, mais que tudo é ter alguém para amar, incondicionalmente, como eu amo todas vocês.

Queridas, obrigada por me mostrarem a vida e, principalmente, obrigada por vivê-la comigo.
A sensação de ter vocês ao meu lado é a melhor que já pude sentir.

Um obrigada especial a mãe mór, que mesmo sem forças para continuar se reergueu e me criou com a maior garra que eu já vi em uma mulher.
A bolinha, a maior mulher do mundo, a maior mãe do mundo.
Te amo de amor forte, de amor grande, desses que até dói de sentir.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A Boa

Uma vez perguntaram a um amigo meu: qual é a boa?
E assim, em uma mesa de bar casual, e de uma forma também casual, senti que este amigo me colava aquele rotulozinho da cerveja no braço.
Demorei alguns segundos (desses segundos que o lerdo demora para entender a piada) e fui do queporréessa de colar adesivo em mim ao táqueopariu não acredito nisso!
Era eu a resposta daquela pergunta.
Eu era A Boa.
Esse adesivo colado me rendeu um feriado interessante.
Mas, mais que isso, me rendeu uma sensação Garrafa de Antártica, e daquelas bem geladas.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

isso não é um blog OU a excluída digital

- Cara, não escrevo no meu blog há séculos, aquilo lá nem blog é mais. Preciso resolver isso, e acho que hoje é um bom dia. Então vamos lá ligar o computador (que agora funciona) e botar as letrinhas para correrem um pouco. Entrando no site, tudo ok. Ih, não tô logada. Bem, então login. Nome de usuário, senha e... Ué, que isso? Devo ter digitado errado, sempre faço isso. De novo. Nome de usuário, senha e... Ih... Não tá entrando. Você deve aceitar o termo de uso, o seu blog mudou, não sei o que de conta de google. Caceta, o que é isso?! Acho que o site deu uma daquelas melhoradas sem aviso que sempre acontecem e que eu demoro séculos para entender... Vou olhar o blog dos meus amigos e ver se eles já reparam nessa mudança... Noooossa, a Silvia tá escrevendo um texto por dia, que é isso, meu deus. Triiiim, ligando pra ela, preciso saber o que está acontecendo. Silvia, que troço é esse de coisas novas no blog, não consigo logar? Meu bem, é porque você está sem computador... Não o computador já tá ok, acho que teve algumas mudanças no site, você não viu? Tá postando texto todo dia... Mudanças...? Não vi naõ. Peraí que eu vou entrar aqui pra ver, me liga em cinco minutos. Tá. Triiiim. Você está logando direto da sua página, loga pela página inicial do blog. Tá, peraí... deu um negócio de aceito os termos de uso e eu não gosto de ler esses contratos, sempre acho que quando muda é pra ter que pagar alguma coisa. Não, o site é gratuito, te garanto que você não vai ter que pagar. Então vou aceitar sem ler, peraí... nome do usuário, senha e você vai acessar o www.espacoch.nãoseioquelá que é isso, deus meu? Ah, lembrei. Era um blog que eu fiz faz um tempão mas que larguei pra lá, como a maioria das coisas que eu fazia. Mas é seu? Seu nome seu email sua senha? É. Mas eu achava que esse endereço nem existia mais, não tô entendendo. Porque quando eu criei o intimmidade eu botei o mesmo email e a mesma senha e funcionou, por isso achei que esse não existia. Era o mesmo email a mesma senha? Era. Perái... Ué, agora foi. Foi o que? Entrou... o intimidade. E aí? E aí sei lá, tá normal... acho que vou mudar a senha. Ué, também não entendi... muda a senha ou então o email, ou a senha e o email. Mas depois você sai e entra de novo e vê se o problema foi da conexão ou se é assim mesmo... Tá, beijo, a gente interage cibernéticamente. Ok, beijo. Depois eu vejo isso, agora tô escrevendo... E tenho medo do que pode acontecer quando eu sair...
ê, carol, isso não é mais um blog ou, definitivamente, você é uma excluída digital.